A maior contribuição para atrair novos cirurgiões oncológicos está nas novas tecnologias, incluindo a robótica e a cirurgia minimamente invasiva. A afirmação é da cirurgiã oncológica Kelly Hunt, presidente da Sociedade Americana de Cirurgia Oncológica (Society of Surgery Oncologic – SSO) em entrevista para o site da SBCO durante o XVI Congresso Brasileiro de Cirurgia Oncológica, que aconteceu de 15 a 18 de novembro no Windsor Barra Hotel, no Rio de Janeiro.
Kelly Hunt, que é também professora e diretora do Departamento de Oncologia Cirúrgica da Mama do MD Anderson Cancer Center, da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, atua também como pesquisadora, com trabalhos concentrados em encontrar procedimentos cirúrgicos menos invasivos, porém mais eficazes, para pacientes com câncer de mama e sarcomas de tecidos moles.
Ela se define como uma investigadora de pesquisa translacional (que leva o conhecimento da bancada para o mundo real – leito – do paciente) e atua no desenvolvimento de novas estratégias de tratamento envolvendo agentes que visam a regulação do ciclo celular. Em laboratório, trabalha com ciclina e moléculas de baixo peso molecular como marcadores prognósticos do câncer de mama.
Alguns de seus estudos em andamento estão investigando os mecanismos subjacentes de resistência à terapêutica padrão e metástase para câncer de mama positivo para receptor de estrogênio. Nesta entrevista, Kelly Hunt avalia o papel do conhecimento em biologia molecular para a atuação do cirurgião oncológico, discute novas tecnologias e pontos relacionados com a formação de uma nova geração de cirurgiões oncológicos.
SBCO – Quais são os desafios dos cirurgiões oncológicos diante da biologia molecular?
Kelly Hunt – O ritmo do conhecimento é tão rápido que é muito difícil para que os cirurgiões acompanhem todos os avanços, como na genética, genômica, DNA tumoral circulante (ctDNA) e nas novas tecnologia de imagem. Por conta disso é que precisamos de congressos como este, onde possamos discutir, nos encontrar, aprender e ensinar.
SBCO – Especificamente sobre sua área de atuação como cirurgiã, qual é a contribuição do conhecimento da genética para a cirurgia do câncer de mama?
Kelly Hunt – Bem, esse é um tema realmente crítico, porque a maneira como normalmente pensamos sobre fazer uma cirurgia é baseada apenas no tamanho do tumor e se os gânglios linfáticos estão envolvidos. Mas agora, por causa da genética, sabemos que algumas pessoas correm maior risco de desenvolver câncer e, por conta disso, precisamos de todo o tecido mamário removido para melhorar a sua sobrevivência a longo prazo. Outras pacientes têm uma probabilidade menor de recorrência com base nos testes genômicos que temos agora. E, assim, podemos realmente fazer menos cirurgias. Portanto, estamos usando a genética e a genômica para ajudar a dimensionar realmente a cirurgia para cada paciente.
SBCO – E quanto aos novos profissionais, qual é a maior contribuição para atrair novos cirurgiões?
Kelly Hunt – A maior contribuição está nas novas tecnologias, incluindo a robótica e a cirurgia minimamente invasiva, que vão melhorar tudo para os cirurgiões e para os pacientes. As tecnologias nos dão uma visualização melhor do que fazemos com nossos procedimentos abertos típicos, com limitações, como iluminação fraca do centro cirúrgico e coisas assim. As tecnologias mais recentes proporcionam uma melhor visualização e uma melhor articulação, para que possamos utilizar e chegar a áreas difíceis por meio de incisões menores e deixar os pacientes com melhores resultados cosméticos globais.
SBCO – A cirurgia oncológica no futuro será ainda mais atrativa para os novos cirurgiões?
Kelly Hunt – Acho que sim, porque a oncologia é uma coisa muito multidisciplinar, então você não fica só na sala de cirurgia o tempo todo. Na verdade, você está trabalhando com outros profissionais, como radio-oncologistas, oncologistas clínicos, patologistas, e está realizando testes que estão mudando a prática. Todos os nossos ensaios clínicos que estamos realizando agora estão incorporando terapias sistêmicas neoadjuvantes e novas técnicas de radiação e coisas assim, então estamos mudando muito a prática. Aliás, mudando muito rapidamente, para ganho dos pacientes.
SBCO – Como você avalia os avanços da cirurgia robótica em geral?
Kelly Hunt – A maior dificuldade da cirurgia robótica é tornar a plataforma robótica acessível aos cirurgiões. Ainda está muito caro e é difícil fornecer essa plataforma para todos os pacientes. Neste momento não podemos fazê-lo, mas se o custo baixar, poderemos ter melhor acesso.
SBCO – Considerando o futuro da cirurgia, a cirurgia robótica poderia substituir a laparoscopia?
Kelly Hunt – Bem, acho que a laparoscopia ainda será necessária para certas coisas, e a cirurgia robótica ajuda a chegar a áreas difíceis como na pélvis e às vezes no tórax e outras áreas. A cirurgia laparoscópica ainda é muito útil para certos procedimentos. Além disso, a laparoscopia não é tão cara e não requer plataforma robótica.
Texto produzido por Moura Leite Netto