Em 15 de novembro foram realizados os cursos pré-congressos do XVI Congresso Brasileiro de Cirurgia Oncológica, organizado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO),no Hotel Windsor Barra, no Rio de Janeiro. O evento, realizado entre os dias 15 e 18, também integra a IV Semana Brasileira da Oncologia, que apresentou as diretrizes de tratamento dos tipos de câncer mais incidentes na população brasileira e outros tipos que demandam intervenções de cirurgia minimamente invasiva e robótica, radioterapia e tratamento sistêmico medicamentoso.
Os avanços da cirurgia oncológica minimamente invasiva e robótica foi o grande destaque da maior parte dos cursos do primeiro dia de Congresso, como frisou o médico cirurgião oncológico Mário Rino Martins, coordenador do serviço de cirurgia oncológica do Hospital de Câncer de Pernambuco e coordenador científico do programa de treinamento em cirurgia robótica do Real Hospital Português (RICO).
“No painel que participei nós falamos sobre câncer de esôfago, comparando a técnica robótica com a convencional, que é a laparoscópica, e conseguimos hoje perceber os ganhos que a robótica tem entregado aos cirurgiões, como as facilidades que nós temos de fazer a cirurgia dentro do tórax com pinças articuladas, que tem trazido um acúmulo de aprendizado mais rápido, uma cirurgia também mais rápida, com grandes benefícios para o paciente. A cirurgia minimamente invasiva é o padrão para esse tipo de câncer, apesar de termos ainda a barreira do custo. Mas, acredito que dentro em breve teremos a cirurgia robótica virando um padrão da cirurgia minimamente invasiva”, afirmou Mário Rino Martins.
O dia de pré-Congresso contou com especialistas oncológicos convidados do Norte ao Sul do país, como o cirurgião oncologista Jeancarllo Silva, que atua no Hospital Universitário Getúlio Vargas, em Manaus. É também professor de Oncologia da Universidade do Estado do Amazonas e doutorando em Câncer Ginecológico na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
“A troca de experiências foi maravilhosa, principalmente em relação às inovações da cirurgia robótica e das diferentes formas de fazer a mesma cirurgia, seja no Brasil ou no exterior. Esse networking melhorou muito a troca de conhecimentos entre nós médicos de diferentes lugares do país. Hoje, o que vemos de diferença, basicamente, é a estrutura, principalmente hospitalar. Mas hoje o câncer ginecológico nos permite trabalhar com menos recursos e, mesmo assim, entregar ótimos resultados”, destacou o cirurgião oncologista Jeancarllo Silva.
O evento também recebeu nomes internacionais de peso, como o cirurgião Mário Leitão Jr, diretor do Programa de Acesso a Cirurgia Minimamente Invasiva do Serviço de Ginecologia do Memorial Sloan-Kettering, dos Estados Unidos, responsável pela aula magna de Cirurgia Robótica – de A a Z – como realizar do simples ao complexo – lições aprendidas, e pela palestra sobre como é possível utilizar os resultados do estudo clínico LACC para cirurgia robótica.
Padronização de procedimentos reduz chances de erros durante cirurgias
Dentro do curso Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica nos Tumores Ginecológicos, a importância da padronização dos procedimentos cirúrgicos como uma forma eficaz de redução de erros foi um dos subtemas mais recorrentes entre os palestrantes.
“Vimos no dia de hoje, em diferentes apresentações, que a padronização dos procedimentos cirúrgicos permite melhores resultados morfológicos para as pacientes de câncer ginecológico. É muito importante todo esse cuidado do planejamento pré-operatório, com toda a equipe envolvida e alinhada, além do cuidado com o pós-operatório. E a minha aula complementou bem isso, com o manejo das massas anexiais do câncer de ovário inicial, onde o cirurgião tem esse planejamento importante do exame de imagem, que o guia para a decisão da melhor via: cirurgia aberta ou minimamente invasiva. Hoje, coube a mim defender a minimamente invasiva que, com muita segurança pode ser feita, mas para isso é necessário a realização da padronização e do planejamento dos procedimentos cirúrgicos”, ressaltou a médica ginecologista Vanessa Alvarenga Bezerra, coordenadora da Pesquisa Clínica de Ginecologia Oncológica do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) e da Pós-Graduação em Cirurgia Robótica em Ginecologia do HIAE.
A coordenadora do curso, a cirurgiã oncológica Audrey Tsunoda, membro titular da SBCO, da Comissão de Cirurgia Oncológica Minimamente Invasiva, também comentou sobre a importância da padronização nos procedimentos cirúrgicos visando garantir melhores resultados para pacientes com câncer ginecológico.
“A cirurgia minimamente invasiva inclui diversas técnicas que são seguras, principalmente se forem padronizadas e executadas por equipes experientes com essas técnicas. Desta forma, nós podemos tratar de forma acessível e com iguais resultados as mulheres com câncer ginecológico”, afirmou Audrey Tsunoda, que também é coordenadora do Programa de Cirurgia Robótica do Hospital do Coração (HCor),representante da América Latina e Caribe na diretoria da International Gynecologic Cancer Society (IGCS),professora da Pós-graduação em Tecnologias em Saúde da PUCPR, além de atuar no Departamento de Ginecologia Oncológica do Hospital Erasto Gaertner e IOP/Hospital São Marcelino Champagnat.
Nível técnico das palestras e discussões foi elogiado
“Achei surpreendente o nível técnico-científico das palestras. Conseguimos fazer, após as apresentações, discussões de altíssimo nível sobre os temas propostos. Só posso dar nota dez. Claro que já sabemos que a cirurgia robótica veio para ficar, mas conseguimos mostrar que a videolaparoscopia hoje também pode apresentar um grande resultado, tanto quanto a robótica. Acho que é importante nós destacarmos isso do evento”, comentou o cirurgião oncológico do Instituto Nacional de Câncer (INCA-RJ),Rafael Albagli, que possui experiência na área de cirurgia oncológica do aparelho digestivo.
“As apresentações e discussões foram todas excelentes, com destaque para os avanços técnicos e as padronizações cirúrgicas, que são comuns em várias regiões do Brasil e conferem uma segurança e precisão maiores, principalmente em relação ao câncer de fígado. Além disso, os avanços da cirurgia minimamente invasiva que, com incisões menores, com menos repercussões sistêmicas para o paciente, é possível fazer cirurgias que antes teríamos que operar de forma aberta. Acredito que os próximos desafios serão popularizar essas cirurgias para uma quantidade maior de cirurgiões para que mais pacientes tenham acesso a essas novas técnicas com, talvez, a associação das abordagens ablativas, como a quimioterapia, para dar opção de operar aqueles que hoje não são candidatos”, acredita o cirurgião oncológico Felipe José Fernández Coimbra, diretor do departamento de Cirurgia Abdominal e head de Tumores Gastrointestinais Altos do A.C.Camargo Cancer Center, ex-presidente da Americas Hepato-Pancreato-Biliary Association – AHPBA – 2019-20 e da SBCO, no biênio 2015-17.
Texto produzido por Úrsula Neves