A preservação da fertilidade em pacientes com câncer

A preservação da fertilidade em pacientes com câncer

Por: PUBLICADO EM: 02 jan 2024

Se por um lado, muitas mulheres desejam adiar a maternidade, por outro, os tumores ginecológicos incidem, cada vez mais, antes dos 35 anos. Esse cenário, apresentado no último Congresso Brasileiro de Cirurgia Oncológica, exige a tomada de providências, visando promover a preservação da fertilidade em pacientes com câncer.

Neste artigo, mostramos como os tratamentos oncológicos afetam a capacidade reprodutiva e quais são as principais formas de preservá-la. Falamos, também, em que momento as mulheres devem realizar o planejamento gestacional, de modo a prevenir a infertilidade. Vale a pena conferir!

Quais tratamentos oncológicos podem levar à infertilidade?

Diversos tratamentos oncológicos podem prejudicar a fertilidade feminina. Sabe-se, por exemplo, que algumas cirurgias feitas em órgãos reprodutivos impossibilitam a gravidez. É o caso da:

Já na quimioterapia, a intensidade do dano depende dos tipos de medicamentos empregados e das doses administradas. Além disso, existe o “fator idade”, pois mulheres tratadas com quimioterapia após os 35 anos têm menos chances de conseguir engravidar após o tratamento.

radioterapia, por sua vez, quando realizada no abdômen ou na pelve, danifica diretamente os ovários, comprometendo a capacidade reprodutiva. O mesmo ocorre na radioterapia feita no cérebro, pois a irradiação da glândula pituitária (ligada à produção de hormônios ovarianos) tende a diminuir a fertilidade.

Em relação aos tratamentos com hormonioterapia, terapia alvo ou imunoterapia, ainda não se sabe muito sobre seus impactos sobre a fertilidade. Entretanto, alguns medicamentos dessas categorias já demonstraram provocar insuficiência ovariana, por vezes, irreversível.

Como promover a preservação da fertilidade em pacientes com câncer?

A estratégia para a preservação da fertilidade em pacientes com câncer, quando possível, é definida por uma equipe interdisciplinar e varia conforme o quadro clínico individual. Para tanto, leva-se em consideração o tipo, o tamanho e a localização do tumor, bem como o estado de saúde geral.

Muitas vezes, indica-se a criopreservação de oócitos — mais conhecida como congelamento de óvulos. Inclusive, recentemente o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que os planos de saúde devem custear os gastos associados à técnica para as pacientes oncológicas.

Assim, recomenda-se congelar os gametas femininos antes de iniciar o tratamento, com a rapidez necessária para que não prejudique o desfecho oncológico. Se após o tratamento do câncer houver o desejo de engravidar, basta recorrer às técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro (FIV) para viabilizar a gestação.

Outra possibilidade é a transposição uterina — uma técnica que ainda se encontra em fase experimental, sendo realizada somente dentro de protocolos de pesquisa. Nesse caso, objetiva-se poupar a fertilidade de mulheres que terão que realizar radioterapia na região pélvica.

Para isso, os órgãos reprodutivos (útero, trompas e ovários) são transferidos, cirúrgica e temporariamente, para a porção superior do abdômen, onde ficam em segurança. Ao término das sessões, os mesmos são colocados nos locais de origem.

Você sabia que essa técnica foi desenvolvida por um cirurgião oncológico brasileiro? Saiba mais nesta reportagem do Fantástico!

Em que momento as mulheres devem realizar o planejamento gestacional?

Mulheres saudáveis e em idade fértil devem manter seus exames ginecológicos em dia e, se possível, engravidar mais cedo. Porém, vivemos em um momento em que muitas desejam engravidar mais tarde, esperando, por vezes, para além dos 40 anos. Paralelamente, o diagnóstico de tumores ginecológicos, como o câncer de endométrio, é cada vez mais frequente em jovens com menos de 35 anos.

Portanto, mesmo sem apresentar sinais de problemas, caso realmente desejem adiar a maternidade, deve-se fazer o planejamento gestacional com um ginecologista especialista em reprodução humana assistida quanto antes. Nesses casos, costuma-se indicar o congelamento de óvulos como forma de prevenir a infertilidade — um dos principais efeitos colaterais dos tratamentos oncológicos.

Já no caso das mulheres que receberam o diagnóstico de câncer, especificamente, o planejamento gestacional deve ser o mais breve possível. A rapidez é necessária para não atrasar o início do tratamento oncológico, comprometendo sua eficiência.

Quanto tempo após o tratamento oncológico é possível engravidar?

Após o término do tratamento oncológico, se possível, recomenda-se aguardar entre seis meses a dois anos para tentar engravidar. Isso vale tanto para quem pretende engravidar naturalmente, como para quem irá realizar algum tratamento de reprodução assistida, pois existe o risco do câncer recidivar.

Em suma, ainda que nenhum método seja 100%, variando conforme o quadro clínico individual, a preservação da fertilidade em pacientes com câncer é viável. Mas, seu sucesso depende de uma estratégia multidisciplinar assertiva, definida em conjunto pelas equipes de oncologia e de cuidados obstétricos de alto risco!

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) conta com membros por todo o Brasil. Se precisar de ajuda para encontrar um(a) oncologista cirúrgico(a) na sua região para conversar mais a respeito, utilize nossa ferramenta de busca!

Autor:
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica – SBCO é uma sociedade civil sem fins lucrativos, com personalidade jurídica própria, fundada em 31 de maio de 1988, cuja finalidade é congregar cirurgiões oncológicos e outros profissionais envolvidos no cuidado à pessoa com câncer.
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