Com avanço da vacinação, tratamento do câncer de mama deve ser retomado

Com avanço da vacinação, tratamento do câncer de mama deve ser retomado

Por: ATUALIZADO EM: 04 fev 2022 | PUBLICADO EM: 10 out 2021

Nova campanha Outubro Rosa trata do relevante tema do câncer de mama. Todo o mês será dedicado à divulgação sobre a importância do autoexame, diagnóstico precoce e tratamentos preventivos. Ações nesse sentido se multiplicam no Brasil. Em 2021, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca),  o país deve registrar 66.280 novos casos de câncer de mama, o que corresponde a quase 30% das incidências da doença em brasileiras. Essa é uma das doenças que mais matam mulheres no mundo. Para as que já são pacientes oncológicas, uma rede de apoio, tanto informacional quanto emocional, é imprescindível.

Os cuidados devem ser reforçados em época de pandemia. As dificuldades impostas às redes de saúde pelo novo coronavírus  também afetaram diagnósticos e tratamentos oncológicos mais morosos e penosos para os pacientes. Segundo a Sociedade Brasileira de Patologia, 50 mil brasileiros, ao menos, deixaram de ser diagnosticados com câncer desde o início da disseminação da COVID-19, e 70% das cirurgias para tratar o câncer foram adiadas entre março e maio do ano passado, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica.
A Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional Minas Gerais (SBM-MG) alerta que, neste momento, muitas mulheres estão procurando tardiamente ou adiando seus exames de rotina. Pesquisa elaborada pelo Ibope Inteligência a pedido da farmacêutica Pfizer revelou que 62% das mulheres esperam pelo fim da pandemia para retomar consultas médicas e exames de rotina necessários para a detecção do câncer de mama.
O percentual é ainda mais alto entre aquelas com mais de 60 anos, grupo que corre maior risco diante da COVID-19, sendo que 73% das mulheres ouvidas disseram ter deixado de frequentar o médico ginecologista ou mastologista, desde o início da pandemia – houve redução importante na presença às unidades hospitalares.
O levantamento do Ibope aponta ainda que mulheres com menos de 40 anos são as mais desassistidas em informações sobre prevenção e exames de rotina. O desconhecimento contribui para receberem o diagnóstico mais tarde e sofrer com tumores mais agressivos. São dados significativos,  considerando-se que o câncer não faz quarentena.

PRECOCE Intitulado “Quanto antes melhor”,  movimento coordenado pela  Sociedade Brasileira de Mastologia  (SBM) chama a atenção para a necessidade de adoção de um estilo de vida que compreenda a prática de atividades físicas e alimentação saudável, minimizando riscos não só do câncer de mama, como de muitas outras doenças. Em mensagem-chave, a entidade recomenda que, quando preciso, o tratamento seja iniciado logo após o diagnóstico, aumentando a sobrevida e as chances de cura da paciente.

Vilmar Marques, presidente da SBM, lembra que o câncer de mama se tornou o mais comum no mundo e, assim como qualquer outro tipo, não espera para atacar. Interromper o tratamento pode acarretar prejuízos irreversíveis. “Não queremos alarmar, mas, sim, orientar a população. Compreendemos a nossa impotência diante da pandemia e do isolamento social que foi necessário em certo período. Mas agora, com o avanço da vacinação, é primordial que não só seja retomada a rotina de tratamento, como acelerada. Quanto antes retomar melhor”, alerta o mastologista.
A ausência do diagnóstico não significa que a pessoa não deva fazer o rastreamento. Vilmar Marques ressalta ser imprescindível que a mulher, principalmente dos 40 anos em diante, realize anualmente a mamografia, exame mais eficaz para o diagnóstico precoce. “Temos de, uma vez por todas, adotar o conceito de saúde preventiva. Muitas mulheres não fazem com medo de achar algo, mas é importante entender que quem acha tem a chance de cuidar. E quanto mais cedo for, melhores serão as chances de cura”, diz o médico, acrescentando que, embora sem dados oficiais, diversos mastologistas de muitos estados detectaram aumento da incidência da doença em estágio avançado, o que pode estar relacionado à redução do rastreamento no último ano.
ALERTA O sobrepeso e a obesidade, além da falta de atividades físicas, alimentação inadequada,  somados ao consumo de cigarros e bebidas alcoólicas, aumentam os riscos de desenvolvimento do câncer de mama, impondo má qualidade de vida para quem está em tratamento. “Nosso alerta é o quanto antes mudar o estilo de vida melhor para a saúde, e isso envolve exercícios, alimentação saudável e a consciência da saúde preventiva como um todo”, afirma Vilmar Marques. Sedentarismo, consumo de álcool, noites maldormidas, entre outros aspectos, também contribuem para baixar a imunidade da pessoa.
Em relação à vacinação contra a COVID-19, a SBM reforça que é primordial que todas as mulheres estejam imunizadas, inclusive as diagnosticadas com câncer de mama. Não há nenhuma contraindicação relacionada às vacinas. “Nenhuma mulher deve abdicar da vacinação por medo de que ela possa causar doenças na mama ou afetar seus exames, pois essa possibilidade não existe”, afirma Vilmar Marques. As pacientes inclusive compõem o grupo de risco, muitas com a imunidade baixa devido ao tratamento a que estão sendo submetidas.
RESPOSTAS Quanto aos tratamentos, a medicina moderna tem novidades no enfrentamento do câncer de mama. As conquistas das últimas décadas contribuem para novas abordagens e melhores respostas. “Os tradicionais tratamentos com cirurgia, radioterapia e quimioterapia já não são os únicos no combate a esse tumor. A hormonioterapia e a terapia-alvo são métodos recentes que estão ajudando no atendimento das pacientes acometidas pela doença. Os resultados têm sido bastante positivos”, ressalta Ramon Andrade de Mello, médico oncologista, professor da disciplina oncologia clínica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),da Uninove e da Escola de Medicina da Universidade do Algarve (Portugal).
Outro monitoramento, desta vez realizado por pesquisadores da Rede Brasileira de Pesquisa em Mastologia, em parceria com a SBM, revela que, na última década, mais de 110 mil mulheres brasileiras foram submetidas à mastectomia (retirada da mama) na rede do Sistema Único de Saúde (SUS),como parte do tratamento.
Paralelamente, nesse mesmo período, aproximadamente 25 mil foram submetidas à reconstrução mamária. Houve crescimento desse universo até 2014 e, desde então, discreta redução até 2017. Se a queda já vinha sendo observada nos últimos anos, em 2020, o impacto foi maior devido à pandemia. Em 2021, a Lei 12.802/2013, que garante reconstrução mamária a mulheres mastectomizadas,  completa oito anos.
ACOMPANHAMENTO A advogada Cynthia Ferreira, de 65 anos, foi diagnosticada com câncer de mama aos 42. Surgiu um nódulo na mama esquerda, e a cirurgia para retirada foi complementada com tratamento por meio de radioterapia e quimioterapia. Não foi necessário remover a mama nem parte dela.
O tratamento durou seis meses, a princípio, e, desde então ela mantém acompanhamento médico periódico. Em 2019,  outro nódulo foi detectado na mesma mama, mas em área diferente da primeira incidência.
Nas duas ocasiões, não ocorreu metástase. Contudo, a quimioterapia foi mais forte e a advogada relata momentos difíceis em que passou muito mal com os efeitos do tratamento.
Cynthia observou as unhas arroxeadas, emagrecimento e queda de cabelo, que, agora, exibe em novo tom, o branco, natural. “Da segunda vez fiquei mais apavorada. Não esperava que fosse ter o câncer de novo. Mas em nenhum momento tive medo de morrer”, diz.
Com o receio de que a doença pudesse voltar, ela foi submetida à retirada das duas mamas (mastectomia total),logo resolvida com a reconstrução mamária.
Com o problema controlado, a advogada segue com o acompanhamento de seis em seis meses, incluindo exames de imagem e laboratoriais e visitas ao médico. Leva a vida normalmente, não sem ter aprendido com o câncer.
Para manter a saúde, pratica pilates, caminha, retoma aos poucos a musculação, tem uma boa alimentação, não bebe e não fuma. “O câncer me ensinou muita coisa. A dar menos valor às coisas materiais e me voltar para o espiritual. A presença de Deus é uma coisa maravilhosa na minha vida. A doença só aumentou a minha fé”, conta.
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