Hospitais ainda restringem cirurgias eletivas

Por: ATUALIZADO EM: 20 set 2021 | PUBLICADO EM: 06 jul 2021

Mesmo com da redução das internações por covid, maioria dos procedimentos sem urgência é cancelada.

O número de pacientes internados por covid-19 tem diminuído nas últimas semanas, mas os hospitais ainda encontram dificuldades para elevar o número de cirurgias eletivas, que não são emergenciais. Levantamento divulgado pelo Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp),que reúne estabelecimentos particulares, mostra que 68% deles cancelaram pelo menos metade desses procedimentos que, em tese, não são emergenciais entre o fim de junho e o início de julho.

No sistema público, o cenário é similar. De acordo com informações do Ministério da Saúde, em 2020 houve queda de 32% no número de eletivas realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS),para 6 milhões de procedimentos, na comparação com as 8,8 milhões de 2019. Uma média de 500 mil cirurgias por mês. Neste ano, de janeiro a abril, com 1,997 milhão de procedimentos de janeiro a abril, essa média abaixo da de 2019, antes da pandemia, se manteve.

Segundo o ministério, a diminuição está relacionada à necessidade de a rede de serviços de saúde públicos e privados disponibilizar leitos clínicos e de terapia intensiva para o atendimento de pacientes com covid-19.

Francisco Balestrin, presidente do SindHosp, diz que são múltiplos os fatores que causaram a queda no número de eletivas. “Tem a ver com o aumento da utilização da estrutura dos hospitais por pacientes de covid-19, escassez de materiais e pessoal, entre outros”, afirma. No mais recente levantamento da entidade, 72% dos hospitais relatam falta de mão de obra, seja por afastamento de profissionais por problemas de saúde, seja por escassez de pessoal especializado.

“Quando aumentam os casos de covid-19, diminuem as cirurgias eletivas”, diz. O paciente covid-19, afirma, exige muito da estrutura hospitalar, da capacidade do setor de criar uma logística adequada e acaba “concorrendo” com o paciente que precisa ir para a cirurgia. Neste ano, em particular, a falta de medicamentos do chamado kit intubação por causa da lotação excessiva das UTIs impediu que outras demandas cirúrgicas fossem atendidas.

O levantamento do SindHosp mostrou que entre 28 de junho e 2 de julho, 62% dos hospitais privados tinham ocupação de leitos de UTI acima de 80%. Na pesquisa anterior, feita entre os dias 14 e 18 de junho, essa fatia era maior, de 80%.

Nos leitos clínicos, 56% dos hospitais tinham lotação acima de 80% na pesquisa mais recente, ante 81% dos estabelecimentos no levantamento anterior. Houve uma reversão de tendência já que 64% dos hospitais não registraram aumento de internações nos últimos dez dias, enquanto na pesquisa anterior 66% relatavam alta das internações nos dez dias anteriores.

Segundo o Ministério da Saúde, as cirurgias mais demandadas são oftalmológicas – sobretudo de catarata -, correção de hérnias e retirada da vesícula biliar e cirurgia de astroplastia (quadril e joelho).

Casos de maior complexidade, como as cirurgias oncológicas, ainda registram queda muito acentuada. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) mostram que entre março e dezembro do ano passado sete de dez cirurgias não foram realizadas. Esse panorama persiste em 2021, segundo Alexandre Ferreira Oliveira, cirurgião oncológico e presidente da entidade.

Oliveira destaca que no caso dos pacientes oncológicos um dos grandes problemas tem sido a falta de diagnóstico. No ano passado, a estimativa é que um terço de 650 mil novos diagnósticos previstos não tenha sido realizado, segundo a Sociedade Brasileira de Patologia (SBP). Na fase mais aguda da pandemia em 2020, houve redução de 47% na realização de mamografias e de 46,3% dos diagnósticos de câncer colorretal. Ainda hoje as pessoas não têm voltado a procurar atendimento. “Mesmo sintomáticas elas têm esperado até o último momento para ir ao hospital. Com isso, têm aumentado o número de casos mais graves. Teremos uma epidemia de casos avançados”, diz o presidente da SBCO.

Fonte: Valor Econômico

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