O XVI Congresso Brasileiro de Cirurgia Oncológica, organizado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO),no Hotel Windsor Barra, no Rio de Janeiro, terminou no dia 18 de novembro em clima de comemoração e muitos elogios aos organizadores do evento. Um dos pontos altos foi a última sessão que reuniu médicos, pacientes em tratamentos e pacientes em acompanhamento, que contaram suas histórias de superação do câncer, suas vivências e dificuldades durante suas jornadas, além de como a atuação de seus médicos influenciou cada etapa.
Uma das presidentes de mesa, a médica mastologista com formação em Cirurgia Oncológica Fabiana Baroni Makdissi, head do Centro de Referência da Mama do A.C.Camargo Cancer Center, lembrou que estava ali não somente como médico, mas também como ex-paciente de câncer de mama, quando passou a palavra para a primeira palestrante, Eloisa Helena Belfort, que descobriu um câncer de mama com 41 anos e agora está com 62 e recebeu apoio da Associação dos Amigos da Mama (Adama).
“Estou aqui para falar para vocês, médicos, que tenham um olhar diferenciado para os pacientes, um olhar que não foque para o câncer apenas, mas sim olhe para a pessoa que está com câncer. E quando o médico “pega a gente no colo”, com sorriso, olha nos nossos olhos e pergunta: como você está? Estamos juntos, eu vou te ajudar. Essa atitude faz toda a diferença para o paciente”, conta Eloisa Belfort, que. Conforme relatou, passou por diversos médicos até seguir e completar o tratamento.
A segunda palestrante convidada foi a cantora Preta Gil, que está em tratamento de câncer de colorretal. Ela contou a sua história e destacou a importância do cirurgião oncológico Frederico José Ribeiro Teixeira Júnior, que estava presente como um dos presidentes da mesa do evento. “Ouvindo a palestra da Eloisa tive mais certeza ainda de como eu fui e sou privilegiada por poder contar com os cuidados do Dr. Frederico, a quem eu chamo carinhosamente de Fredinho. Ele se transformou em meu amigo durante o tratamento e, literalmente, não largou da minha mão quando eu precisei de apoio. Por mais médicos assim, iguais a ele”, ressaltou Preta Gil.
O último palestrante convidado foi Cesar Cavalcante, repórter da TV Band que, em janeiro deste ano, aos 29 anos, descobriu um câncer de estômago. O diagnóstico veio após ele fazer exame para investigar um refluxo com o qual convivia há anos, mas que aumentou depois de voltar de uma viagem. Ele se consultou com um gastroenterologista, que pediu a endoscopia. O jornalista foi diagnosticado com um adenocarcinoma, o tumor no estômago mais comum. O câncer de César era agressivo, mas foi descoberto ainda na fase inicial, o que melhorou o prognóstico.
Ele resolveu produzir uma série de reportagens sobre o próprio tratamento. “Câncer: virei paciente”, que abordou a rotina de quimioterapia, os medos do paciente e estratégias de superação. Tudo contado em primeira pessoa. Além disso, César entrevistou outros pacientes e especialistas no assunto. A série e a experiência deram ao jornalista novas perspectivas para a comunicação em saúde.
“Fiquei preocupado, mas na hora que comecei a fazer, percebi que conversar era como uma terapia para mim. Espero que a série atinja o maior número de pessoas. Que elas realmente vejam a importância de se cuidar e de se falar sobre câncer. Algo que acontece muito é o tabu. Existem pessoas que hoje, em 2023, não falam a palavra câncer. Existe um estigma muito grande, mas a gente precisa falar sobre o câncer”, frisa Cesar Cavalcante.
Na visão do cirurgião oncológico Frederico José Ribeiro Teixeira Júnior, essa foi a sessão mais importante, o ponto alto do Congresso “em virtude desta franca interação positiva entre os pacientes oncológicos e os médicos cirurgiões. “Foram levantadas questões fundamentais, como as habilidades não técnicas que todo cirurgião deve (ou deveria) ter, ou seja, o comportamento de um cirurgião frente a um paciente oncológico. Esse tipo de interação possui extrema relevância para reduzir a distância entre nós e os pacientes. Eu considero esse Congresso como o melhor que já participei da SBCO, desde a primeira edição. Foi extremamente dinâmico. Fiquei surpreso com a riqueza dos temas apresentados aqui e quero parabenizar a comissão científica e organizadora”, comentou o médico.
Já a cirurgia oncológica e mastologista Fabiana Baroni Makdissi afirmou que estava radiante e muito feliz com o resultado do último bloco de palestras, mas também com todo o evento. Ela destacou que, especialmente o último bloco, saiu totalmente “fora da caixinha”, conseguindo juntar pacientes, cirurgiões e profissionais de saúde de todas as especialidades (como nutricionista, psicólogo, etc.)
Quero parabenizar toda a equipe que organizou esse mega evento, que incentivou falas importantes não somente da parte técnica, mas também do acolhimento, da empatia, de ouvir o outro sobre as suas necessidades e inseguranças. E realmente temos que tratar mais o ser humano e não apenas a doença, o câncer. Essa experiência de ver esses temas dentro da grade científica de um evento médico foi espetacular”, concluiu.
Texto produzido por Úrsula Neves
Fotos – arquivo SBCO