Painel aborda técnicas e momento da preservação da fertilidade em pacientes oncológicos

Painel aborda técnicas e momento da preservação da fertilidade em pacientes oncológicos

Por: PUBLICADO EM: 06 dez 2023

No último dia do XVI Congresso Brasileiro de Cirurgia Oncológica, promovido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO),realizado entre os dias 15 e 18 de novembro, no Windsor Barra Hotel, no Rio de Janeiro, um dos blocos de palestras mais procurados pelo público presente abordou a preservação da fertilidade em pacientes com diagnóstico de câncer ginecológico.

 

O câncer se desenvolve por meio de células que se multiplicam desordenadamente e que podem ser originárias de diversos tecidos e órgãos. Em mulheres, as neoplasias do sistema reprodutor apresentam elevada incidência, sendo assim, um dos desafios na abordagem terapêutica é a preservação da fertilidade das pacientes. Os palestrantes destacaram que a técnica escolhida para preservar a fertilidade da mulher – caso seja possível – deve ser escolhida de forma individualizada e seguindo as observações de uma equipe interdisciplinar.

 

A cirurgiã oncológica Ana Carolina Anacleto Falcão, vice-presidente de Comunicação da SBCO e que atua na área de tumores endometriais, ressalta a importância desta mesa em abordar o fato de as mulheres estarem engravidando mais tarde e que, paralelamente, o diagnóstico de câncer de endométrio em mulheres jovens está em uma curva crescente. “Temos aí um embate, que se refere às mulheres que esperaram até os 45 anos para ter filhos e o aumento da incidência do câncer de endométrio antes dos 35 anos. Precisamos abordar essas mulheres para que elas se planejem e – se possível – venham a engravidar antes e estejam com os seus exames ginecológicos em dia”, ressaltou.

 

Ainda segundo a especialista, o fato deste tema estar sendo falado merece ser destacado. “Antes, a oncofertilidade não entrava em nenhuma pauta. E hoje, obrigatoriamente, nós temos que fazer com que isso seja uma realidade. Claro, isso depende do tipo e do tamanho do tumor, além da situação dessa paciente. E sabemos que qualquer conduta pode anular completamente a perspectiva dessa paciente de gerar um filho. Portanto, é muito importante e urgente esse debate”, frisou Ana Falcão.

 

O cirurgião ginecológico Renato Moretti-Marques, que atua no Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein na área de colo de útero, destacou a importância da avaliação do desejo da paciente de engravidar, a persistência da gestação e as condições oncológicas que permitam a preservação dessa gestação sem prejuízos para o desfecho oncológico.

 

“Para isso, o uso de exames de imagens é essencial. No entanto, a melhor opção é a realização de ressonâncias para avaliar as partes moles, além de não oferecer radiação para essa paciente. Outro ponto fundamental é a atuação de uma equipe multidisciplinar para traçar o melhor caminho a ser percorrido para tentar preservar essa gestação e garantir os resultados oncológicos positivos”, acrescentou o especialista.

 

Já o cirurgião oncológico e geral, Marcelo de Andrade Vieira, que também atua no Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein, na área de tumores no ovário, ressaltou que essa equipe multidisciplinar deve avaliar sempre a paciente em especial e de forma individualizada, e que os resultados finais no tratamento do câncer de ovário dependem de como o procedimento é realizado.

 

“É essencial que a paciente seja informada e entenda todos os riscos e benefícios envolvidos no antes, durante e depois de cada passo do tratamento. E, claro, é preciso respeitar a sua decisão”, pontuou o cirurgião.

 

Técnicas para preservar a fertilidade das pacientes

 

Para tomar a melhor decisão terapêutica, a equipe multidisciplinar deve avaliar o estado clínico geral da paciente, sendo que em casos de mulheres grávidas, a idade gestacional é fundamental para a tomada de decisão. No caso de mulheres que desejam engravidar, uma das alternativas no campo experimental é o congelamento de óvulos, com avaliação médica para investigar a fertilidade, estimulação ovariana, indução da ovulação e punção folicular, finalizando com a criopreservação (congelamento). No entanto, ainda existe a preocupação de adicionar o risco de inoculação de células do tumor por parte dos médicos.

 

Outra consideração importante diz respeito às pacientes que vão precisar de tratamento adjuvante. Como a quimioterapia consistentemente compromete a fertilidade das mulheres, a decisão quanto à necessidade de terapia adjuvante deve ser tomada independentemente da cirurgia realizada (radical ou conservadora),para não comprometer o resultado oncológico. Para carcinoma in situ e câncer microinvasivo, o tratamento muitas vezes é adiado até depois do parto, pois nesses estágios o câncer avança muito lentamente e a gestação pode ser completada com segurança, sem afetar o prognóstico da paciente.

 

Caso o câncer invasivo (em estágio IA2 ou mais alto) seja diagnosticado, a gestação deve ser tratada após prévia consulta com um ginecologista e/ou oncologista. Em casos de câncer invasivo diagnosticado na gestação, a terapia adequada deve ser empregada de imediato e é tradicionalmente recomendada. Se a neoplasia invasiva for diagnosticada depois de 20 semanas e a mulher aceitar o risco não quantificado, o tratamento poderá ser postergado até o 3º trimestre para maximizar a maturidade fetal, mas sem demora excessiva. Para pacientes com câncer invasivo, a cesariana com histerectomia radical é indicada, para evitar o parto vaginal.

 

Uma técnica realizada, ainda em fase experimental, é a transposição uterina. Ela visa preservar a fertilidade em mulheres que passam por sessões de radioterapia contra o avanço do câncer. O método, realizado dentro de um protocolo de pesquisa, consiste em transferir os órgãos reprodutivos para a parte de cima do abdômen para mantê-los intactos durante as terapias. Ao término do tratamento, é realizada novamente a reposição do útero, trompas e ovários em seu local original.

 

“Diferentes técnicas são empregadas para preservar a capacidade reprodutiva da paciente. Quando este objetivo é atingido, é motivo de grande felicidade para todos: pacientes, familiares e toda equipe médica envolvida. Além da paciente e de seus familiares, muitos médicos se dedicaram ao cuidado e viabilização de recursos para alcançarmos o sucesso. Discussão dos riscos e benefícios das intervenções, taxas de sucesso e insucesso, oncologia clínica, radioterapia, cuidados prestados pela equipe de Ginecologia Oncológica, suporte Institucional, com disponibilização de recursos, e cuidados Obstétricos de alto risco proporcionaram o nascimento de um recém-nato com saúde e sem prejuízo dos resultados oncológicos”, concluiu o cirurgião ginecológico Renato Moretti-Marques.

Texto produzido por Úrsula Neves

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