O aumento expressivo dos casos de câncer em todo o mundo nas últimas décadas não indica, infelizmente, qualquer sinal de regressão – ao contrário, a OMS prevê, nos próximos dez a quinze anos, uma verdadeira explosão dos casos da doença. Neste cenário, o Brasil tem que estar preparado para dirimir o sofrimento de sua população, acentuada pelo aumento da expectativa de vida e o consequente crescimento da população idosa. Como doença de fragrante incidência acima dos 50 anos, veremos nos próximos anos um número cada vez maior de pessoas com o diagnóstico de câncer no país, advertindo-se que a cirurgia se torna necessária em ao menos 80% destes pacientes.
Por isso o diagnóstico precoce e o acesso a uma estrutura multidisciplinar com a cirurgia de qualidade aplicada no momento ideal são a chave para a cura da doença. Com técnicas cada vez menos agressivas, a cirurgia deve ser prioridade no investimento público em busca de solução para as centenas de milhares de brasileiros que a cada ano recebem o diagnóstico. Entretanto, dados TCU apontam que apenas 35% das cirurgias por câncer ocorreram em hospitais especializados, trazendo maiores custos ao sistema e sequelas aos pacientes – estudo recente demonstrou que apenas uma em cada quatro pessoas com câncer tem acesso à cirurgia no tempo adequado, com qualidade e bons resultados (Sullivan R, et al. Lancet Oncol 2015; 16: 1193–224).
No Brasil, o investimento no tratamento do câncer destina, à crescente demanda cirúrgica, apenas 10% do valor gasto em oncologia – uma discrepância entre o investimento necessário e o real para se ter um resultado digno a todos os brasileiros. Um novo olhar para o planejamento público do tratamento cirúrgico do câncer e do investimento em recursos humanos, formação e acesso são necessários.
Neste contexto, visando a otimização de recursos e garantindo a capacidade de atendimento às necessidades da população, sugerimos 10 ações fundamentais de educação, prevenção, capacitação de especialistas, avaliação de qualidade e a interação entre as lideranças em oncologia junto ao Ministério da Saúde e entidades de representação médica, no planejamento multidisciplinar do paciente com câncer no país.
- EDUCAÇÃO E ORIENTAÇÃO À POPULAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO PRIMÁRIA E BUSCA DE AVALIAÇÃO MÉDICA AO MENOR SINAL DE SUSPEITA DA DOENÇA.
- AGILIDADE NO ATENDIMENTO E ENCAMINHAMENTO DO PACIENTE AO ESPECIALISTA.
- GARANTIA DE TRATAMENTO MULTIDISCIPLINAR INTEGRADO, COM QUALIDADE E NO TEMPO ADEQUADO PARA REALIZAÇÃO DE CIRURGIA, ADJUVÂNCIA E NEOADJUVÂNCIA.
- OBRIGATORIEDADE DO ENSINO DA ONCOLOGIA NAS FACULDADES DE MEDICINA DE TODO O PAÍS, EDUCANDO MÉDICO GENERALISTA EM PREVENÇÃO E CONCEITOS BÁSICOS DA ONCOLOGIA – HOJE CERCA DE APENAS 10% TÊM A DISCIPLINA EM SUA GRADE CURRICULAR.
- ENSINO E TREINAMENTO DE CIRURGIÕES ONCOLÓGICOS E DAS DEMAIS ESPECIALIDADES EM CADA ÁREA ESPECÍFICA DE ATUAÇÃO.
- INCENTIVO NA PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO NACIONAL E FOMENTO À PESQUISA CLÍNICA, INCLUINDO PROJETO DE RESIDENTE DE PESQUISA E EDUCAÇÃO CONTINUADA EM CENTROS ESPECIALIZADOS NO BRASIL E NO EXTERIOR.
- MAIOR INVESTIMENTO EM PESSOAL E INFRA-ESTRUTURA DE CENTROS DE REFERÊNCIA EM PESQUISA, ENSINO E TRATAMENTO DO CÂNCER – CACONS E UNACONS.
- REGISTRO E AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO ATENDIMENTO E DOS RESULTADOS DO TRATAMENTO (DESFECHO),POSSIBILITANDO SUAS CLASSIFICAÇÕES E GRAU DE EXPERTISE EM CADA TIPO DE TUMOR, PREMIANDO A QUALIDADE E A EFICÁCIA.
- PARCERIAS ENTRE O MINISTÉRIO DA SAÚDE, SOCIEDADES DE ESPECIALIDADES, INSTITUIÇÕES ESPECIALIZADAS E REPRESENTANTES DE PACIENTES NA FORMAÇÃO DAS POLÍTICAS DE CÂNCER.
- FORMAÇÃO DE FÓRUM DE DISCUSSÃO PERMANENTE ENTRE MINISTÉRIO DA SAÚDE, CÂMARA TÉCNICA DO CFM, AMB, SOCIEDADES MÉDICAS ESPECIALIZADAS E ASSOCIAÇÕES DE PACIENTES, PARA PRODUÇÃO CONJUNTA DE DIRETRIZES MÍNIMAS DE PREVENÇÃO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CÂNCER.