Como melhor a gestão pública dos temas relacionados com Oncologia no país. Este foi o foco de um dos painéis da programação científica especial da IV Semana Brasileira de Oncologia, evento que faz uma intersecção das atividades dos congressos promovidos pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO),Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) e Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). A atividade trouxe uma série de questionamentos para a plateia e para os debatedores, que mergulharam em uma profunda reflexão.
Gestão com informação, remuneração profissional, projetos digitais, pesquisa, Leis existentes, financiamentos, profunda análise de dados, crise na saúde, recursos, investimentos, prevenção, acesso a medicamentos e tratamentos. A lista é extensa e a discussão procurou passar por todos os desafios em torno dela. A coordenação da mesa ficou a cargo dos médicos Flávio Silva Brandão, Bruno da Costa Resende e Rodrigo Nascimento Pinheiro.
“Prevenir o que é prevenível, curar o que é curável e acolher todos os pacientes”. Essa foi uma das mensagens da apresentação do diretor do INCA, Roberto de Almeida Gil. Ele mostrou dados sobre o impacto da mudança nos números do câncer e da pesquisa no mundo, que se refletem, diretamente, nas medidas a serem adotadas. “O crescimento do conhecimento é exponencial e não linear, o que torna o trabalho do gestor muito complexo”.
O especialista estava esperançoso ao mencionar uma das reuniões com os envolvidos no Plano de Aceleração do governo, onde, segundo ele, medidas práticas de ampliação e investimentos no INCA estariam saindo do papel para realmente acontecerem.
Investimento nos diversos atores
O tratamento do câncer, envolvendo diversos atores, foi um dos focos centrais da sessão. A médica Raquel Guimarães, chefe do Serviço de Radioterapia do Instituto Nacional do Câncer, falou sobre o desafio da área, já que é um dos três pilares do tratamento oncológico. Segundo a médica, dois terços dos pacientes irão precisar da radioterapia em alguma fase de acompanhamento do câncer.
A abordagem focou sobre o mínimo necessário para um bom tratamento e quais seriam os caminhos para quebrar as barreiras enfrentadas no acesso da população. “É preciso equilibrar essa balança”. Para ela, o investimento na formação diferenciada dos profissionais é uma das saídas, mantendo as equipes motivadas e bem administradas.
Além da formação, o médico Flávio Silva Brandão, oncologista da Santa Casa de Belo Horizonte e representante da SBOC-MG, explicou que para uma evolução dos profissionais também é preciso rever a remuneração do SUS, que está congelada desde 2010, segundo os dados apresentados. “Falta muita coisa como, por exemplo, plano de carreira, que é desconhecido por 71% dos oncologistas”. Entre outros números, para refletir sobre o desafio, o especialista afirmou que um ano de investimento em tratamento no tratamento do câncer foi menor do que os gastos com as eleições em 2022.
Como administrar
Para o ex-ministro da Saúde, Nelson Teich, qualquer mudança ou tentativa de investimento precisa estar baseada em dados. “Esse diagnóstico é o ponto de partida de tudo. Com números, o gestor consegue comandar. Caso contrário, só será especulação e a área fica sem direção”. Para Teich, sem informações para analisar não se vê o problema, não se mede e não se afere. “Como escolher a minha estratégia sem isso? O gestor tem que ser técnico”, afirma.
As Leis
Para adoção de todas as medidas é necessária uma legislação correta. Mas e as “leis que não pegam”? Segundo o médico Alexandre Ferreira Oliveira, diretor de Relações Institucionais e Ações Sociais da SBCO, para que a Lei seja efetiva é preciso ter base para o funcionamento. “Como seguir uma Lei se não existe forma para que ela seja efetivada? As Sociedades Científicas foram convocadas em 2019 para participar de uma avaliação da Portaria de 2012. Nesse período, o tratamento do câncer mudou. Precisamos ser sempre chamados para discutir sobre o que está acontecendo e o que é preciso fazer”, ressalta.
A etapa final da discussão contou com a participação de Fernando Henrique de Albuquerque Maia, atual coordenador geral da Política Nacional de Prevenção do Câncer do Ministério da Saúde, que deixou uma pergunta para ser avaliada: “Qual é o custo real do tratamento de uma pessoa com câncer e quais as reais necessidades? É preciso encontrar estas respostas para saber de onde virão os recursos”.
Texto produzido por Cristina Dissat