Vacinar meninas e meninos e orientá-los sobre sexo seguro permite frear transmissão do vírus HPV

Vacinar meninas e meninos e orientá-los sobre sexo seguro permite frear transmissão do vírus HPV

Por: ATUALIZADO EM: 18 maio 2021 | PUBLICADO EM: 10 fev 2020

Disponível no SUS, vacina contra HPV protege contra câncer de colo do útero, pênis, vagina, ânus, boca e garganta. Além da imunização, recomenda-se orientar os jovens sobre a importância do uso da camisinha e alertar sobre os riscos da prática de sexo oral

Nove entre dez casos de câncer de colo do útero têm relação direta com infecção pelo papilomavírus humano (HPV),doença que, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer, será diagnosticada em mais de 16 mil brasileiras em 2020. 1,2Além disso, o HPV também é uma das principais causas de tumores de pênis (mais de 60% dos casos),ânus (90%),boca e garganta (orofaringe: cerca de 70%),vagina (75%) e vulva (70)3. A estratégia mais eficaz para frear essa associação é a prevenção por meio da adesão às campanhas de vacinação contra esse vírus.

A vacina quadrivalente, disponível na rede pública de saúde, imuniza contra os HPVs 16 e 18 (que respondem por cerca de 70% dos casos de câncer de colo do útero e que está entre os HPVs oncogênicos mais comuns nos demais tumores causados por papilomavírus) também protege contra os HPVs 6 e 11 (associados com a maioria das verrugas genitais). Ela é oferecida no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2014 para as meninas4. É indicada atualmente para meninas a partir de nove anos, com eficácia superior a 90%. Em 2017, o Brasil deu um passo importante, ao ser o primeiro país da América do Sul e o sétimo do mundo (atrás apenas de Austrália, Áustria, Estados Unidos, Israel, Panamá e Porto Rico) a oferecer, na rede pública, a vacina contra o HPV também para os meninos, de 11 a 14 anos5.

Apesar da oferta gratuita de vacina, dados do Ministério da Saúde apontam que mais da metade da população jovem no Brasil está contaminada pelo HPV. “Dentre os fatores que levam à queda da adesão às campanhas de vacinação estão as falsas notícias propagadas pelos movimentos antivacina, que alimentam os tabus em torno do tema”, ressalta o cirurgião oncológico Alexandre Ferreira Oliveira, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO).

A propagação de fake news abre caminho para que se gere um efeito psicogênico, no qual a pessoa, involuntariamente, passa a somatizar sintomas. Os dois eventos mais emblemáticos no Brasil ocorreram em 2014, em Bertioga, no litoral de São Paulo, quando dez meninas de uma mesma escola alegaram reação à vacina e em 2019, quando um episódio semelhante foi observado no Acre. “É nossa missão contrapor esse cenário que tanto alardeia um inverídico risco causado pela vacina. Cabe a nós mostrar de forma clara para a sociedade que a imunização é segura e que, nos países onde as campanhas de vacinação de meninos e meninas tem grande adesão, os tumores associados com HPV já são considerados raros”, ressalta Alexandre Oliveira.

De acordo com o especialista, a proximidade do carnaval, por exemplo, é uma boa oportunidade para se reforçar o papel da vacina contra HPV, assim como a importância de usar camisinha durante as relações sexuais, prevenindo assim não só as infecções por este vírus, como também outras doenças sexualmente transmissíveis. “Estimular a vacinação de meninas e meninos e alertar para a importância de usar camisinha durante o sexo é uma estratégia para quebrar a cadeia de infecção”, explica o cirurgião oncológico.

ANDANDO NA CONTRAMÃO – Embora o Brasil tenha implantado a vacina contra HPV no SUS há seis anos, ainda não se observa um impacto na incidência de câncer de colo do útero. Os números no país se mantêm estáveis, saltando de 16.370 novos casos/ano estimados para 2018/2019 para 16.590 previstos para 2020. É um caminho que vai na contramão, por exemplo da Inglaterra, país com amplo acesso ao rastreamento por Papanicolau e com alta taxa de cobertura vacinal. O departamento de Saúde Pública da Inglaterra anunciou em janeiro que a taxa de mulheres infectadas por HPV dos tipos 16/18 caiu de 15% em 2008 ( (quando teve início o programa de vacinação contra HPV do país) para 2% dez anos depois. Além disso, reforça o estudo, não houve em 2018 nenhum caso entre as mulheres da faixa etária de 16 a 18 anos que foram vacinadas aos 12 e 13 anos6 .

OS PRINCIPAIS FATOS SOBRE HPV

A Organização Mundial de Saúde elenca os principais fatos relacionados com HPV como fator de risco para câncer7. Vamos para alguns deles:

    • Existem mais de 100 tipos de HPV, dos quais pelo menos 14 causam câncer (também conhecido como tipo de alto risco).
    • O HPV é transmitido principalmente por contato sexual e a maioria das pessoas está infectada com o HPV logo após o início da atividade sexual.
    • O câncer do colo do útero é causado por infecção sexualmente adquirida com certos tipos de HPV.
    • Dois tipos de HPV (16 e 18) causam 70% dos cânceres de colo do útero e lesões cervicais pré-cancerígenas.
    • Há também evidências ligando o HPV a câncer de ânus, vulva, vagina, pênis e orofaringe
    • Em 2018, aproximadamente 311 mil mulheres morreram de câncer do colo do útero; mais de 85% dessas mortes ocorrem em países de baixa e média renda.
    • O controle abrangente do câncer do colo do útero inclui prevenção primária (vacinação contra o HPV),prevenção secundária (triagem e tratamento de lesões pré-cancerígenas),prevenção terciária (diagnóstico e tratamento do câncer invasivo do colo do útero) e cuidados paliativos.
    • As vacinas que protegem contra os HPVs 16 e 18 são recomendadas pela OMS e foram aprovadas para uso em muitos países.
    • A triagem e o tratamento de lesões pré-câncer em mulheres com 30 anos ou mais é uma maneira econômica de prevenir o câncer do colo do útero.
    • Os ensaios clínicos e a vigilância pós-comercialização mostraram que as vacinas contra o HPV são muito seguras e muito eficazes na prevenção de infecções por HPV.
    • O câncer do colo do útero pode ser curado se diagnosticado em um estágio inicial.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 – Center for Disease Control and Prevention. . Acesso em 11 fev. 2020.

2 – Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Estimativa 2020 : incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. – Rio de Janeiro : INCA, 2019.

3 – National Cancer Institute . Updated January 10, 2020.

4 – Instituto Nacional de Câncer. . Aceso em 11 fev 2020.

5 – Ministério da Saúde. . Acesso em 11 fev. 2020.

6 – Public Health England. Surveillance of type-specific HPV in sexually active young females in England, to end 2018 Health Protection Report. Volume 14. Number 2.

7 – WHO. https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/human-papillomavirus-(hpv)-and-cervical-cancer. Acesso em 11 fev. 2020.

Sobre a SBCO – Fundada em 31 de maio de 1988, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) é uma entidade sem fins lucrativos, com personalidade jurídica própria, que agrega cirurgiões oncológicos e outros profissionais envolvidos no cuidado multidisciplinar ao paciente com câncer. Sua missão é também promover educação médica continuada, com intercâmbio de conhecimentos, que promovam a prevenção, detecção precoce e o melhor tratamento possível aos pacientes, fortalecendo e representando a cirurgia oncológica brasileira.

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