Compreende-se como cuidados paliativos as ações e os serviços de saúde para alívio da dor, sofrimento e outros sintomas em pessoas que enfrentam doenças graves. Além disso, o conceito de paliatividade também pode ser aplicado em outras condições de saúde que ameaçam ou limitam a continuidade da vida.
Neste artigo, exploramos os princípios dos cuidados paliativos e discutimos como proporcionar suporte adequado aos familiares e cuidadores de pacientes que necessitam desse tipo de assistência. Continue lendo para saber mais!
Cuidados paliativos: para que servem e quando são indicados?
Os serviços de cuidados paliativos servem para proporcionar alívio dos sintomas e do estresse associados a doenças graves. Com isso, objetiva-se promover uma melhor qualidade de vida para pacientes e suas famílias.
Esse tipo de abordagem foca no alívio do sofrimento, por meio da gestão de sintomas físicos, emocionais, espirituais e psicológicos. Dessa forma, pode ser oferecida em conjunto com as terapias voltadas para a doença, independentemente de o objetivo ser a cura ou não.
Outro ponto importante é que esses cuidados são oferecidos em todos os estágios da doença, desde o diagnóstico até o final da vida. Assim, esteja em qual fase estiver, o objetivo é sempre o mesmo: proporcionar conforto e dignidade ao paciente.
Quais são os pilares dos cuidados paliativos para pacientes oncológicos?
Os cuidados paliativos envolvem diversas esferas. São elas: comunicação eficaz, estimativa de prognóstico, orientação antecipatória e tomada de decisão compartilhada sobre opções de tratamento que sejam clinicamente razoáveis.
De acordo com o Ministério da Saúde, estima-se que, aproximadamente, 625 mil pessoas no Brasil necessitam de cuidados paliativos. Uma parcela significativa desse grupo é composta por pacientes com câncer em estágio avançado, os quais têm direito a esse tipo de cuidado essencial.
Conforme a Lei Nº 14.758/2023, que institui a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer, são princípios fundamentais para a oferta de cuidados paliativos:
- controle de sintomas e garantia de qualidade de vida, por meio do acesso à terapia antiálgica e de ações para prevenir perdas funcionais, desconfortos e sofrimento psíquico;
- integração e abordagem interdisciplinar, graças ao cuidado abrangente, que inclui dimensões clínicas, psicológicas, sociais e espirituais, promovendo suporte psicossocial, nutricional e acompanhamento no processo de luto;
- promoção da autonomia e naturalidade dos processos de vida e morte, através da sua reafirmação como processos naturais, evitando medidas para apressar ou adiar o falecimento;
- apoio integral ao paciente e à família, ajudando a mantê-los no ambiente mais adequado, garantindo o acesso à pré-reabilitação, para lidar com os impactos do tratamento;
- correção de sequelas e reabilitação, com a garantia de acesso a procedimentos clínicos ou cirúrgicos destinados à correção de sequelas ou mutilações.
Vale lembrar que a Portaria Nº 3.681/2024 institui a Política Nacional de Cuidados Paliativos (PNCP) no Sistema Único de Saúde (SUS). Com isso, o acesso a cuidados que atendam às necessidades multidimensionais de pacientes e familiares é garantido. Esses cuidados, por sua vez, devem ser humanizados e integrais, respeitando a autonomia e os valores dos pacientes ao longo da vida.
Quais são os cuidados paliativos oferecidos no câncer?
Os cuidados paliativos no câncer se fundamentam na avaliação do prognóstico. Para isso, utilizam-se instrumentos como a Palliative Performance Scale (PPS), que avalia aspectos essenciais da funcionalidade do paciente, tais como:
- capacidade de deambulação;
- nível de atividade e progressão da doença;
- independência no autocuidado;
- padrão de ingestão alimentar;
- e estado de alerta e cognição.
Essas dimensões oferecem uma visão ampla e detalhada sobre a condição do paciente, permitindo a personalização das intervenções. Seja em casa, no hospital ou em um hospital, o objetivo principal é minimizar os sintomas. Isso é feito respeitando as condições funcionais e necessidades específicas identificadas por essas avaliações, com a finalidade de promover:
- controle da dor óssea e prevenção de fraturas, direcionado ao manejo de metástases ósseas, promovendo mobilidade e conforto ao paciente;
- manejo da fadiga, por meio do foco na manutenção da funcionalidade e independência para a realização de atividades diárias básicas;
- melhora nutricional, com intervenções destinadas ao ganho de peso e recuperação de massa muscular para suporte geral;
- tratamento de delírios, com estratégias para melhorar atenção, memória e função cognitiva, promovendo maior estabilidade mental;
- prevenção e manejo de úlceras de decúbito, com cuidados específicos para pacientes restritos ao leito, associados ao suporte nutricional adequado;
- redução do impacto psicossocial, com apoio para lidar com o sofrimento emocional e social associado à terminalidade da doença;
- aconselhamento e suporte ao luto, através da assistência para pacientes e familiares durante o processo terminal e após a morte;
- radioterapia paliativa, para aliviar sintomas em tumores primários ou metastáticos, com protocolos de hipofracionamento, para minimizar desconfortos;
- intervenções não farmacológicas, como técnicas cognitivo-comportamentais, higiene do sono e exercícios aeróbicos realizados para manejar fadiga e problemas emocionais;
- cuidados no fim da vida, incluindo suporte ao luto para os familiares após a morte do paciente.
Como aliviar a sobrecarga dos cuidadores do paciente paliativo?
O alívio da sobrecarga dos cuidadores em cuidados paliativos pode ser promovido por meio de intervenções baseadas em evidências. É o caso da integração precoce dos cuidados, suporte psicossocial, educação prática, uso de tecnologias (como a telemedicina) e avaliação sistemática das necessidades dos cuidadores.
Essas estratégias incluem os cuidadores como parte da equipe de saúde, com o desenvolvimento de planos de autocuidado e de ferramentas para monitorar a sobrecarga. Tudo isso contribui para a qualidade de vida, tanto dos cuidadores, quanto dos pacientes.
Na prática, os cuidadores frequentemente dedicam a maior parte do seu dia a cuidados complexos, muitas vezes, abrindo mão da vida pessoal e profissional. Paralelamente, continuam desempenhando tarefas domésticas e/ou suprindo as necessidades do lar.
Essa sobrecarga significativa está associada a um aumento na incidência de ansiedade, depressão, esgotamento, somatização e outros distúrbios psicológicos. Para aliviar o fardo enfrentado por quem presta cuidados paliativos no câncer, recomenda-se:
- praticar atividades físicas regularmente ou, ao menos, incorporar atividades relaxantes à rotina;
- buscar suporte social, seja prático (como ajuda de outros familiares ou profissionais contratados) ou emocional (como orientação de um líder espiritual);
- fazer psicoterapia, especialmente, se os sintomas psicológicos forem difíceis de manejar de forma independente.
Assim, os cuidados paliativos são fundamentais para o alívio do sofrimento e promoção da qualidade de vida de pacientes com doenças incuráveis. No entanto, é preciso reconhecer que a sobrecarga do cuidador existe, sendo necessário encontrar formas de aliviá-la, de modo a beneficiar ambas as partes.
Esperamos que suas dúvidas tenham sido esclarecidas. Para se manter atualizado sobre os avanços na área da oncologia, siga a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) no Facebook, Instagram, Linkedin, Youtube e X!
Este conteúdo contou com a colaboração do Dr. Audrey Cabral Ferreira de Oliveira, coordenador da Comissão Científica de Cuidados Paliativos em Cirurgia Oncológica da SBCO.